Quando você ouve “depressão”, o que você pensa? Muita gente confunde o sentido desta palavra. Geralmente, pensam que seja um período de tristeza profunda e constante. Mas esta impressão é superficial e acompanha preconceitos. Apenas 37% dos deprimidos graves no Brasil recebem algum tipo de tratamento, enquanto que a maioria deles nem sequer sabem que sofrem disto, segundo as pesquisas [1].
Em geral, acreditamos saber do que se trata, pois todos passamos por episódios tristes na história de nossas vidas. Certas vezes, sabemos como que entramos e saímos daquele momento ruim e até gostaríamos de transmitir nossa experiência por meio de conselhos. Mas quem tenta fazer isto, apesar da boa vontade, pode estar agindo como uma pessoa que enxerga a situação apenas com base em suas vivências pessoais, mas não compreende de forma abrangente o estado em que o deprimido se encontra. Nem sempre o indivíduo que sofre com depressão será percebido como alguém triste. Ele manifesta dificuldade em sentir qualquer emoção, seja positiva ou negativa.
Pode ser que seja visto como alguém pessimista e ranzinza. Provavelmente sua autoestima está muito baixa. Assim, faltará zelo para cuidar de si próprio. O deprimido pode apresentar falta de asseio, falta de empenho em atividades que antes gostava, ou falta de comprometimento com as metas que buscava. Esta atitude “largada” é um reflexo da depressão. Se o quadro se agravar, a falta de motivação será tão intensa que a pessoa não sente mais vontade de sair de casa, nem do quarto, e nos casos extremos ela só quer ficar deitada e dormir maior parte do tempo. Porém, há casos que a depressão fica escondida atrás de comportamentos exagerados. Por exemplo: excesso de dedicação ao trabalho (o chamado “workaholic”), excesso de exercícios físicos (obsessão por ginásticas e academia), ou mesmo compulsão por frequentar festas e ficar num estado de euforia. São maneiras de a pessoa fugir de si mesma para não enfrentar a depressão. Saber reconhecer estes sinais é importante, pois indicam que é hora de buscar tratamento. Se não for curada, a depressão também pode levar ao suicídio.
A depressão também provoca alterações no equilíbrio hormonal. São alterações químicas que dificultam ao organismo ter as sensações boas de prazer e saciedade. E podem surgir sintomas como cansaço, prostração, letargia, dificuldade para concentrar, dificuldade para memorizar, alteração no apetite (pra mais ou pra menos). A imunidade diminui, e o deprimido fica mais suscetível a problemas infecciosos e inflamatórios. Dependendo da gravidade do caso, a depressão pode desencadear doenças cardiovasculares como infarto, hipertensão e AVC. Portanto, depressão não é apenas um sentimento: ela traz prejuízos funcionais, é incapacitante e progressiva. A falta de tratamento pode causar lesões cerebrais. Um estudo demonstrou que pessoas que passaram por períodos depressivos por mais de 10 anos apresentaram mais inflamações no cérebro, em comparação com pessoas que passaram pela doença por menos tempo [2].
Então o que causa, afinal, a depressão? Fatores psicológicos e traumas na infância aumentam as chances do individuo apresentar depressão na vida adulta [3]. Bullying, chantagem emocional, violência psicológica, violência física, violência sexual (abuso e estupro), são fatores de risco. Porém, mesmo quem não passou por nada disso na infância, pode ficar consideravelmente abalado por crises na vida adulta. Notícias impactantes (perdas financeiras, separação conjugal, desastres naturais, receber diagnóstico de uma doença grave) também podem desencadear este quadro.
Além da influência de aspectos psicológicos, há também predisposições orgânicas, que podem ser agravadas conforme os hábitos e estilo de vida. Sedentarismo, dieta inadequada, excesso de peso, alterações hormonais, fumar, beber e o uso drogas são fatores de risco para depressão. Quanto às causas puramente genéticas, atualmente, são cada vez menos levadas em conta. Segundo pesquisadores, os esforços para encontrar um único gene que determine a depressão, ou um agrupamento de genes, estatisticamente não demonstraram nenhuma relevância quando comparados com qualquer grupo aleatório de genes escolhidos ao acaso [5].
Cientistas estão ficando céticos que possam encontrar um gene responsável que explique um quadro clínico tão complexo. A depressão é considerada uma doença de causa multifatorial.
Referências:
(1) Maioria dos depressivos não sabe que tem a doença, que pode levar à morte.
https://www.vix.com/pt/bdm/saude-mulher/maioria-dos-depressivos-nao-sabe-que-tem-a-doenca-que-pode-levar-a-morte
(2) Cérebro pode ser modificado com o tempo se você não trata esta doença.
https://www.vix.com/pt/saude/565916/cerebro-pode-ser-modificado-com-o-tempo-se-voce-nao-trata-esta-doenca
(3) Pesquisa revela traumas da infância que podem estar relacionados a transtornos ansiosos na vida adulta.
http://ribeirao.usp.br/?p=14840
(4) Depressão e Gênero: por que as mulheres deprimem mais que os homens?
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v7n2/v7n2a05.pdf
(5) Cientistas descartam hipótese do gene que causa depressão.
https://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=cientistas-descartam-hipotese-gene-causa-depressao